Depressão: Histórico, Clínica e Tratamento.

Relatos remotos fazem da depressão um dos transtornos de registro mais antigo da humanidade. Foi inicialmente denominada como melancolia (do grego μέλας "negro" e χολή "bilis") por Hipócrates (377 a.C.) que acreditava ser a causa desta doença um acúmulo da bile negra no baço dos enfermos. Este conceito persistiu por muitos séculos até o aparecimento das idéias de Galeno (c. 129 d.C.-c. 200 d.C.) que, pela primeira vez, atribuiu este mal ao cérebro. Durante a Idade Média, importante conotação religiosa foi atribuída à depressão, considerada como um “mal demoníaco”. Já na renascença, com o resgate da cultura clássica, a melancolia passa a ser novamente considerada como um mal humano, dando-se início ao desenvolvimento do paradigma atual.
A depressão é um problema freqüente e sua ocorrência na população em geral varia entre 3% e 11%. Entre pacientes em tratamento ambulatorial ou hospitalar para outras doenças médicas a ocorrência da depressão aumenta significativamente, podendo atingir um em cada três pacientes internados nos hospitais gerais. Este transtorno é 2 a 3 vezes mais freqüente em mulheres do que em homens e pessoas que possuem familiares acometidos apresentam uma maior chance de desenvolverem depressão.
O transtorno depressivo é um problema de saúde pública tão importante quanto a hipertensão arterial, o diabetes ou doenças pulmonares e o custo de seu tratamento é significativamente maior do que o de algumas doenças crônicas como demência de Alzheimer, câncer, osteoporose, hipertensão arterial e esquizofrenia.
A depressão tem grande tendência à recorrência e à cronicidade, especialmente se não corretamente tratada, o que lhe confere grande potencial de incapacitação para o trabalho e um grande número de dias no leito. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que o transtorno depressivo represente a segunda maior causa de incapacitação até 2020.
Segundo a décima edição do Código Internacional de Doenças (CID-10), que é utilizada pelos médicos para o diagnóstico da depressão, este transtorno caracteriza-se necessariamente pela ocorrência quase diária e por mais de duas semanas de tristeza, desânimo e perda do prazer e do interesse por coisas habitualmente agradáveis para o indivíduo. Comumente observa-se ainda perda do apetite com emagrecimento, insônia, lentificação ou agitação, sensação de fadiga ou perda da energia, baixa auto-estima e idéias de culpa, dificuldades de concentração, pessimismo e idéias de suicídio nos casos mais graves.
Diante do diagnóstico de um episódio depressivo, preferencialmente realizado por um médico habilitado, diversos tratamentos estão disponíveis. As psicoterapias podem ser eficazes como único tratamento nos casos mais leves, mas entre indivíduos moderadamente ou gravemente deprimidos o uso de medicações é mandatório. O tratamento medicamentoso da depressão pode ser iniciado pelo médico do paciente ou da família ou pelo psiquiatra. Casos graves ou nos quais o tratamento se mostrou pouco efetivo devem ser conduzidos preferencialmente por um psiquiatra. As medicações de escolha para o tratamento são os antidepressivos mas os ansiolíticos (calmantes) são frequentemente associados. Diversos antidepressivos estão disponíveis atualmente no mercado e todos parecem ter eficácia semelhante. Porém, pacientes que não melhoraram com o uso de um antidepressivo podem mostrar-se responsivos a outro. Depois da escolha de um médico, é importante para se atingir a melhora que o paciente persista no tratamento já que todos os antidepressivos existentes levam cerca de 4 a 8 semanas para que sejam observados seus possíveis efeitos, assim como cada aumento de dose.
Como pudemos observar, a depressão é um transtorno comum, muito incapacitante e que tende a se tornar crônico se não for tratado. Atualmente existem recursos capazes de alterar a história natural desta doença mas que só podem se reverter em benefícios reais caso o paciente deixe seus preconceitos de lado e procure um profissional habilitado.